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#SextouUniBF em homenagem ao dia do poeta

23 de outubro de 2020

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Nesta semana, na terça-feira - dia 20 de outubro - o Brasil comemorou o Dia Nacional do Poeta.

Essa data tão especial surgiu em 1976, por conta de um movimento intelectual ocorrido no dia 20 de outubro, na casa do célebre Paulo Menotti Del Picchia, romancista e pintor talentosíssimo.

Naquele evento, onde estavam reunidos diversos autores da literatura nacional, a poesia puramente brasileira foi consolidada e ainda mais desenvolvida, selando assim o dia oficial do poeta! São 44 anos cheios de versinhos e rimas, além de sentimentos esvoaçantes, coloridos, densos, e recheadíssimos de arte!

Para comemorar essa data e homenagear os poetas do país, preparamos um conteúdo completo com diversas curiosidades, informações e dicas para você aproveitar. Acompanhe com a gente!

Curiosidades Curiosas para os Curiosos de Plantão

A poesia no Brasil existe desde os primórdios, ou seja, desde a colonização do país. Com a chegada dos portugueses, a poesia jesuítica já se instalou entre os nativos, que passaram a ter contato com a produção literária.

Com o passar do tempo, novas escolas da literatura surgiram, como o quinhentismo, o barroco, o arcadismo, as famosas poesias parnasianas, o modernismo, e até mesmo a poesia concreta, da literatura contemporânea.

Todos esses gêneros e o conjunto de autores formaram a identidade brasileira da poesia, que é bastante miscigenada, diversificada e cheia de características contrastantes. A beleza está justamente nessa riqueza de misturas!

Categorizando a produção brasileira, divide-se em três setores: poesia existencial, poesia lírica e poesia social. Conheça um pouquinho de cada uma delas, e é claro, contemple lindas poesias para comemorar o dia do poeta!

Poesia Existencial

A poesia existencial tem como foco os temas metafísicos da vida, tais como: a solidão, as razões para existir, tristeza, alegria, a angústia e a morte.

Dentre os principais autores desse segmento, estão: Murilo Mendes e Vinícius de Moraes. Aprecie uma poesia existencial brasileira, do surrealista mais queridinho da literatura nacional:

REFLEXÃO NÚMERO 1°

Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho

Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio

Nem ama duas vezes a mesma mulher.

Deus de onde tudo deriva

E a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo

Nascer é muito comprido.

Murilo Mendes

Poesia Lírica

Já a poesia lírica, bastante praticada nas escolas do barroco e do romantismo, é marcada por características como: a subjetividade, expressões, emoções e vivências do eu lírico. Nesse tipo poético, o autor utiliza sempre a primeira pessoa do discurso.

Os autores mais conhecidos por suas poesias líricas são: Gregório de Matos e Carlos Drummond de Andrade.

Em nossa opinião, apreciar Drummond melhora o dia de qualquer um. Agite sua sexta-feira com os versos a seguir:

VERBO SER

Que vai ser quando crescer?

Vivem perguntando em redor. Que é ser?

É ter um corpo, um jeito, um nome?

Tenho os três. E sou?

Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?

Ou a gente só principia a ser quando cresce?

É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?

Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?

Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.

[...]

Carlos Drummond de Andrade

Poesia Social

Por fim, a poesia social também marcou fortemente a produção poética no Brasil, em bastantes escolas literárias. Dentre os aspectos que definem esse tipo de poesia, estão: a denúncia das mazelas da sociedade, o olhar realista do cenário em questão, a exposição dos problemas e o apelo por melhorias.

Um dos autores que mais se destacou nesse campo foi Castro Alves, o chamado “poeta dos escravos”. O autor recebeu esse apelido pois costumeiramente utilizava os seus versos para denunciar inadequações da sociedade da sua época, em especial a desigualdade e a escravidão.

Castro foi um grande revolucionário, e parte da igualdade que temos hoje certamente é resultado do seu esforço e da sua coragem gigantesca!

Aprecie - e lute, mesmo internamente - juntamente com o autor, em uma das suas principais poesias:

A CANÇÃO DO AFRICANO

[...]

O escravo então foi deitar-se,

Pois tinha de levantar-se

Bem antes do sol nascer,

E se tardasse, coitado,

Teria de ser surrado,

Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraçada

Deita seu filho, calada,

E põe-se triste a beijá-lo,

Talvez temendo que o dono

Não viesse, em meio do sono,

De seus braços arrancá-lo!

Castro Alves

Constrangedoramente forte e belo, não é mesmo?

Versos e Ensaios

Como já estamos falando de Literatura - afinal, esse é o tema principal desse conteúdo - que tal uma sugestão diferente, extremamente inovadora e um dos destaques da poesia concreta no Brasil?

Prepare a sua mente para adentrar em universos peculiares, cheios de quebras, curvas, retornos e sem padrões! E é claro, com um quê de curitibano!

Leia a:

Capa livro Paulo Leminski

“Toda Poesia” - Paulo Leminski

O poeta curitibano é um dos principais nomes do concretismo literário em nosso país, e fez grandes contribuições, com mais de 20 obras publicadas.

Além de poeta, Paulo foi crítico literário, tradutor e professor. Sua escrita é identificável em qualquer lugar, tendo em vista que o autor construiu uma identidade própria muito singular.

Dentre as características das suas obras, estão: irreverência, ironia, trocadilhos, brincadeiras e gírias. Leminski escreveu muitas poesias concretas, e são delas que a nossa sugestão da semana é constituída.

“Toda Poesia” é um livro de poemas escrito ao longo da vida do autor, e publicado em 2013 pela Companhia das Letras. Composto por cerca de 413 páginas de pura poesia, o livro é a junção de 7 obras escritas pelo poeta.

Se você deseja se divertir, intrigar-se, refletir e ter uma experiência para lá de diferente, Toda Poesia é a escolha mais do que perfeita.

Luz, Câmera, Ação!

Para finalizar, deixaremos como sugestão uma obra cinematográfica fantástica, que se inspirou em uma das - ousamos dizer - MELHORES POESIAS brasileiras de todos os tempos.

Assista a:

Morte e Vida Severina (1981)

Capa filme Morte e Vida Severina

O filme dirigido por Walter Avancini e protagonizado por José Dumont, é considerado até hoje uma das melhores adaptações de livro para o cinema. Com a trilha sonora inteiramente desenvolvida por Chico Buarque, o filme é uma versão bastante fiel da poesia, escrita em 1954 por João Cabral de Melo Neto.

Em suma, a obra narra a trajetória do retirante Severino, que inicia a sua jornada do sertão nordestino pelo litoral, buscando melhores condições de vida.

Essa produção artística também faz uma denúncia à poluição e consequente destruição do Rio Capibaribe, localizado em Pernambuco. Por conta dessa grande crítica e o olhar engajado e bastante ousado, pode-se enquadrar Morte e Vida Severina na categoria da Poesia Social.

Com uma trilha sonora impecável, letras das músicas - que inclusive, são versos da poesia original - e melodias melancólicas e típicas do nordeste, o filme se mostra uma verdadeira obra prima, que recomendamos com 5 estrelinhas brilhantes!

Você pode acessar o filme no YouTube mesmo, por aqui. E caso deseje ouvir a algumas partes da trilha sonora, separamos duas músicas:

Esperamos que você aprecie as poesias que trouxemos, as recomendações, as curiosidades, e todo esse peso que apenas os poetas conseguem trazer às suas obras, paradoxalmente com tanta leveza.

A arte deve ser valorizada todos os dias, e os poetas merecem os nossos mais sinceros PARABÉNS!

Essa homenagem é tão pouco se comparado ao que esses artistas cheios de palavras, emoções e cores merecem.

Afinal,

Se João Cabral de Melo Neto estivesse aqui, ele diria que…

“Mesmo sem querer fala em verso

Quem fala a partir da emoção.”